Gritante, ainda que silencioso: Preconceito na mobilidade estudantil de Moçambicanos
DOI:
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2023.59.12751Palavras-chave:
imigração, mobilidade, xenofobia, racismo, hipersexualizaçãoResumo
A imigração voluntária dos africanos para o Brasil é recente e foi motivada pela procura de melhores condições de vida, trabalho ou estudo. A mobilidade estudantil é crescente e atrai jovens moçambicanos. O objetivo deste estudo é identificar e analisar as dificuldades enfrentadas pelos estudantes moçambicanos durante sua formação na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa e descritiva. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 19 alunos moçambicanos da Unilab. Busca-se a interpretação dos relatos dos estudantes a fim de caracterizar sua experiência, com foco nas dificuldades apresentadas. Os elementos que apareceram espontaneamente nos relatos deram origem a duas categorias emergentes de análise: a) Xenofobia e Racismo e b) Hipersexualização. Os preconceitos mudaram o estilo de vida dos entrevistados, pois precisaram enfrentar uma condição não esperada: o preconceito sobre o lugar de origem (Moçambique/África), principalmente, e, secundariamente, pela cor. Além destes, as mulheres moçambicanas vivenciaram situações de machismo, especialmente a hipersexualização, que afeta sua experiência de mobilidade estudantil no Brasil. O machismo é enfrentado por elas em Moçambique e em nosso país, fazendo com que sofram uma espécie de cruzamento de preconceitos transnacional.
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