Memória edificada e as disputas por modelos de desenvolvimento em Santo Ângelo-RS
DOI:
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2025.62.15772Palavras-chave:
Memória, Patrimônio histórico-cultural edificado, Desenvolvimento, Território, ConflitoResumo
Esta pesquisa de cunho documental busca demonstrar o impacto das disputas por modelos de desenvolvimento e suas contradições resultantes quando aplicados à memória coletiva, bem como a relação com a preservação, ou não, de bens edificados considerados memoráveis no município de Santo Ângelo-RS (Brasil). Com base no método materialista histórico dialético, apresenta-se o panorama das disputas patrimoniais na localidade e seus impactos na efetiva preservação dos bens edificados que são considerados memoráveis. Conforme indicado pelos dados da pesquisa, conclui-se que a proteção legislativa se provou ineficiente em assegurar a preservação dos bens edificados do território, de modo que o quadro geral da memória edificada municipal demonstra ser mais complexo do que o abarcado pelo processo institucional de patrimonialização. Assim, compreende-se que as contradições encontradas nos processos de patrimonialização local são resultantes da contraposição de modelos de desenvolvimento para a cidade, os quais expressam as dinâmicas do capital globalizador sobre o território estudado.
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