Mercados imersos como promoção de desenvolvimento territorial: o caso do território quilombola Ribeirão Grande/Terra Seca
DOI:
https://doi.org/10.21527/2237-6453.2024.61.16012Palabras clave:
quilombolas, comercialização de alimentos, desenvolvimento territorial, mercadosResumen
Nas últimas décadas emergiram diversas pesquisas voltadas a promover a singularidade e valorização de produtos e serviços de territórios rurais a partir da construção social de mercados, entre as quais destaca-se a abordagem dos “nested markets” ou mercados imersos. Tendo em vista esses estudos, o objetivo desta pesquisa volta-se a identificar os mercados imersos acessados por mulheres quilombolas da Comunidade Ribeirão Grande/Terra Seca (RGTS), no Vale do Ribeira (SP) e analisar em que medida esses mercados contribuem para a promoção do desenvolvimento desse território quilombola. Para cumprir os objetivos desta pesquisa, lançamos mão de instrumento de pesquisa que conjugou métodos qualitativos e quantitativos, formado por entrevista semiestruturada e instrumento de diagnóstico de mercados imersos, voltado a analisar os mercados acessados pelos grupos de comercialização de alimentos Perobas, Raiz e Rochas, presentes na Comunidade RGTS. Os resultados evidenciaram que as dificuldades em acessar mercados de proximidade, institucionais e convencionais, em especial após a pandemia da Covid-19, levaram os grupos estudados a acessar novos canais de comercialização, encontrando nos Grupos de Consumo Responsável (GCRs) um importante espaço de vendas. Os GCRs apresentaram características de mercados imersos e por meio da aquisição de produtos tradicionais quilombolas promovem não apenas a valorização e reprodução da cultura e história do Quilombo RGTS como também o aumento da renda das famílias. Além disso, contribuem para maior autonomia e protagonismo feminino, sustentabilidade ambiental e fortalecimento da governança da agricultura familiar. Desse modo, os resultados apontados na pesquisa indicam que o acesso aos mercados imersos protagonizados por mulheres quilombolas da Comunidade RGTS contribuem para a promoção do desenvolvimento territorial.
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