Da “Justiça” ao “Acesso à Justiça”: Representação, processo coletivo e “Véu da Ignorância”
DOI:
https://doi.org/10.21527/2317-5389.2023.21.12853Resumo
Ao longo das últimas décadas tem se tornado comum, no processo civil brasileiro, a oferta de protagonismo à ideia de acesso à justiça. Também, tem sido cada vez mais corriqueira a defesa de que a proteção coletiva de direitos individuais poderia contribuir para a afirmação desse objetivo. Para avaliar esse discurso, o presente artigo procura recordar que ele deve ser antecedido por uma própria definição suficiente do conceito de justiça. Assim, adota-se como parâmetro exemplificativo a visão desenvolvida sobre o tema por John Rawls, demonstrando que a sua construção teórica, pautada na ferramenta do véu da ignorância, ratifica a adequação da tutela coletiva.
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