Aspectos da violência infantil durante a Covid-19 em um Estado da Amazônia Legal
DOI:
https://doi.org/10.21527/2176-7114.2025.50.14763Palavras-chave:
Criança, Pandemias, Maus-Tratos Infantis, Violência, Serviços de Proteção InfantilResumo
Essa pesquisa teve como objetivo analisar os casos registrados de violência infantil em um Estado da Amazônia Legal durante a pandemia pela COVID-19. Para isso realizou-se uma série temporal de base documental, a partir das notificações de maus-tratos a criança, ocorridos no Estado do Tocantins, no período de 2020 a 2021. As variáveis utilizadas foram ano da agressão, sexo e idade da vítima e do agressor, local de ocorrência e tipo(s) de violência perpetrada. Para análise, realizou-se estatística descritiva simples (frequência absoluta e relativa), medidas de tendência central (média e desvio padrão) e para as variáveis categóricas (variável desfecho tipo de violência), utilizou-se o Teste de Qui-quadrado. Adotou-se nível de significância de 5% (p≤0,05). Ao total 2.389 (100%) fichas foram consideradas válidas para a análise. Em 2021 houve mais registros de abuso infantil que em 2020, passando de 1.099 (46,0%) notificações em 2020, início do cenário pandêmico, para 1.290 (54,0%) no ano subsequente. Além disso, em 2021 as crianças apresentaram 0,70 mais risco de sofrer negligência e 0,82 violência psicológica, se comparado com 2020. Conclui-se que os maus-tratos infantis foram associados ao período, com maior ocorrência no segundo ano de pandemia, ao sexo da criança e do agressor e ao tipo de violência. Tais aspectos sinalizam a urgente necessidade de ações intersetoriais direcionadas a cultura de paz e igualdade de gênero, principalmente em período pandêmico.
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