Tecnologias digitais na educação básica e a territorialização das desigualdades: O caso do Amazonas
DOI:
https://doi.org/10.21527/2179-1309.2025.122.17273Palavras-chave:
Tecnologias digitais, educação básica, desigualdades educacionais, Amazonas, políticas públicasResumo
Este artigo se debruça sobre as especificidades da implementação das TDIC na educação básica no estado do Amazonas, com ênfase na territorialização das desigualdades educacionais. A partir da análise do projeto "Aula em Casa" — implementado pelo Governo do Amazonas durante a pandemia da COVID-19 — e dados oficiais, como o dashboard institucional da SEDUC-AM (2020), identificam-se fortes assimetrias na distribuição e uso das tecnologias entre capital e interior: enquanto a gestão alcançou 88,68% na capital, no interior ficou restrita a 39,26%. O WhatsApp foi o recurso mais utilizado, com 162.083 participantes, contrastando com os 28.491 que acessaram o Google Classroom, evidenciando a prevalência de ferramentas mais acessíveis, mas menos sofisticadas pedagogicamente. O artigo destaca que apenas 4% das escolas públicas do Amazonas aderiram ao Programa de Inovação Educação Conectada (PIEC), revelando o descompasso entre políticas públicas nacionais e realidades regionais. Além disso, dados de 2022 mostram que 40,9% das escolas públicas do estado seguem sem acesso à internet (ANATEL, 2022), com a situação mais grave nas áreas ribeirinhas, onde 97% das instituições permanecem desconectadas (FAS; UNICEF, 2017). O estudo conclui que, embora as TDIC sejam potencialmente democratizadoras, sua implementação na Amazônia é limitada por fatores estruturais, geográficos e históricos. Defende-se, assim, a necessidade de políticas educacionais territorialmente sensíveis, com investimentos estruturais, formação docente adequada e integração dos saberes locais, para que as tecnologias digitais se transformem efetivamente em instrumentos de inclusão e justiça educacional.
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