PRÁTICAS CURRICULARES E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Autores

  • Maria Cristina Pansera de Araujo UNIJUI

Resumo

Os artigos do número 105 da revista Contexto & Educação articulam-se em torno de práticas curriculares de Ciências da Natureza (Biologia, Física e Química), Geografia, Matemática, Pedagogia, Formação profissional e Organização de cursos de Pós-graduação, tanto em diálogos específicos quanto interdisciplinares. Os textos propõem aproximações, que contribuem nas discussões da formação inicial e continuada de professores bem como de outros profissionais, que tem, na área básica, os seus fundamentos para a qualificação e atuação.

Seis artigos analisam práticas das Ciências da Natureza em diferentes aspectos, tais como aprofundamento da aprendizagem conceitual, novas metodologias ou interações produzidas.

No artigo Ensinar padrões de herança mendelianos utilizando caracteres humanos – percepção dos professores, Cléia Rosani Baiotto e Élgion Lucio da Silva Loreto discutem os resultados de uma entrevista com dezessete professores de Biologia de Cruz Alta sobre o ensino de genética e o tipo de contextualização utilizado. Os entrevistados descrevem que o melhor aproveitamento dos alunos está associado à curiosidade e interesse pelo tema. Embora a utilização de caracteres humanos herdados tenha um efeito positivo significativo no ensino de genética, acarreta dificuldades como a possibilidade de gerar constrangimentos associados a questões de familiaridade e grau de parentesco, além do descrédito na informação científica.

Carlos Alberto Andrade Monerat e Marcelo Borges Rocha questionam, no artigo Como a Biologia Celular tem sido abordada por revistas de Divulgação Científica, o entendimento da Ciência e as estratégias de divulgação. Os autores identificaram uma considerável quantidade de publicações relacionadas à Biologia Celular nestas revistas, com ampla utilização de recursos linguísticos, como metáforas e analogias, evidenciando a importância da compreensão destas questões para ampliar as discussões no ensino científico. Além disso, eles ressaltam a importância de considerar os textos de divulgação como referencial teórico a ser analisado pelos educadores e pesquisadores, para que seus conteúdos sejam compreendidos pelos estudantes da educação básica e leitores da comunidade.

No artigo Aprendizagem baseada em problemas no currículo integrado para graduação em medicina: construção da autonomia acadêmica, Taylor Tito Bobato, Izabel Cristina Meister Martins Coelho e Elaine Rossi Ribeiro buscaram analisar a visão inicial do estudante, entender como ocorre sua adaptação, elencar os fatores de sucesso e suas dificuldades no estudo propiciado pelo desenvolvimento de um currículo integrado, fundamentado na resolução de problemas. Os estudantes iniciais não tiveram contato anterior com a metodologia, mas evoluíram na sua compreensão com o avanço dos semestres.

No artigo, A sistematização dos saberes docentes em suas relações com a formação inicial de professores de Química, Débora Lázara Rosa, Ana Néry Furlan Mendes e Andrea Brandao Locatelli buscaram sistematizar os saberes que constituem a identidade docente: saberes experienciais em processo; saberes da ação pedagógica; saberes da relação interinstitucional e saberes publicizados, como resultado da formação inicial de professores de Química participantes do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID na Universidade Federal do Espírito Santo.

João Carlos Krause, Dante Saul Braun, Antonio Vanderlei dos Santos e Rosane Teresinha Fontana, no artigo Influência de um blog no ensino de ventilação mecânica na disciplina de enfermagem no cuidado a pacientes de risco, analisam a avaliação da influência dos objetos de aprendizagem por meio de blog sobre Ventilação Mecânica, um tema crucial, no processo ensino/aprendizagem da disciplina Enfermagem no Cuidado a Pacientes de Risco.

Encerra o tema práticas curriculares em Ciências da Natureza, o artigo Contribuições da economia para a alfabetização científica: uma proposta para a educação básica, escrito por Patricia Franzoni, José Claudio Del Pino e Eniz Conceição Oliveira, sobre saber ciências como condição necessária para que a sociedade possa participar de maneira mais eficiente nos processos de tomada de decisão. Portanto, é imprescindível garantir a alfabetização científica dos alunos, em que o conhecimento científico é uma das possibilidades de interpretação do real, sem desconsiderar outras formas de leitura do mundo. Deste modo, propõe-se uma discussão sobre alfabetização científica e sua importância no ensino de ciências, estabelecendo relações entre economia, tecnologia, sociedade e meio-ambiente.

O segundo grupo de artigos tematiza aspectos de fundamentos e práticas curriculares no ensino de matemática.

No primeiro deles, intitulado O pnaic como acontecimento discursivo: mobilizando sentidos no ensino de matemática, Rejane Riggo de Paula e Cláudia Landin Negreiros abordam o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC como Acontecimento Discursivo, na perspectiva da Análise do Discurso – AD de vertente francesa, referenciada nos estudos de Michel Pêcheux (1969; 1997) e Eni Orlandi (2001; 2003; 2005; 2013; 2014).

Eimard Gomes Antunes do Nascimento, Cristiane de Sousa, Júlio Wilson Ribeiro e Nicolino Trompieri Filho, no artigo Coletânea LABGG (laboratório no GeoGebra) para escolas e universidades: módulo nef.m803 – o triângulo e os pontos notáveis baricentro e circuncentro, analisam as produções da Coletânea organizadas em módulos com apoio metodológico da sequência de ensino chamada de EDT (Ensino Dinâmico com Tecnologia, cuja aplicação se encontra em fase de desenvolvimento) com base teórica o TPACK (Technological Pedagogical Content Knowledge), para o inter-relacionamento com as tecnologias. O módulo em estudo trata-se da 3ª aplicação em Matemática do 8º ano do Ensino Fundamental II, no tocante ao assunto sobre “as relações e propriedades geométricas - o triângulo”, explorados através do LABGG, por comandos ou/e graficamente, obtendo como resultado, outra forma de ensino em um ambiente de caráter laboratorial, pelo qual possibilita a prática pretendida de uma forma dinâmica e atrativa

Oscar Massaru Fujita, Raquel Gomes de Oiveira, Maria Cecília Fonçatti e Erika Aparecida Navarro Rodrigues, no artigo Professores de matemática e percepções acerca do uso de materiais institucionalizados pelo currículo do estado de São Paulo, abordam as percepções dos professores sobre o tema. Os resultados revelam que os professores entendem parcialmente essa contribuição curricular para seu trabalho docente. A maioria deles não reconhece no currículo e em seus pressupostos questões referentes à gestão curricular, autonomia docente e flexibilidade para o desenvolvimento dos conteúdos. Como consequência, os docentes, ou acatam o uso desse material, ou negam sua utilização.

Outra contribuição importante para os estudos de práticas curriculares e formação profissional está no artigo Ensino de Geografia na Educação do Campo e o Livro Didático, escrito por Carina Copatti e Helena Copetti Callai. A questão central do texto trata do papel assumido pelo livro didático de Geografia, no contexto da escola do campo. As autoras problematizam o processo de constituição das escolas do campo e propõem algumas reflexões sobre o uso e as limitações dos livros didáticos, ao abordarem temas da Geografia, no contexto da escola do campo. Defende-se que o professor precisa desenvolver sua autonomia na condução do processo educativo de modo a suprir as lacunas encontradas no cotidiano do ensino escolar para superar a visão do livro didático como organizador e condutor da aula.

Marlene Oliveira de Brito e Vitor Machado, no texto Discriminação planejada: a seletividade do currículo oficial paulista para os anos iniciais do ensino fundamental, analisam criticamente o material didático disponibilizado aos professores pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEESP), para que eles desenvolvam suas ações educativas. Com base na análise do conteúdo categorial, identificaram que o poder público contribui de forma planejada para a discriminação de temas étnico-raciais, por meio das políticas educacionais e do controle das práticas curriculares no cotidiano escolar.

No artigo, Aulas dinâmicas e interativas: uma leitura freireana da compreensão de estudantes de pedagogia a respeito da docência, Márden De Pádua Ribeiro, Nayara Alves Teixeira, Camila Silva Palhares Leite e Flávia Raiane de Jesus Ramos narram a pesquisa quantitativa, realizada em curso de Pedagogia privado de Belo Horizonte, com o objetivo de levantar o perfil dos discentes do referido curso. Foram identificados três eixos estruturantes: pessoal, cultural e pedagógico. O foco deste artigo são as análises provenientes das respostas do eixo pedagógico do questionário, em que os respondentes mostraram certo perfil de docência. As discussões fundamentaram-se em Marcos Masetto e Paulo Freire.

Francisco Regis Vieira Alves no artigo, Mestrado (acadêmico) em ensino de ciências e matemática: a proposta do Instituto Federal do Ceará (IFCE), tematiza o processo de concepção e construção de uma proposta de Mestrado Acadêmico (MA), do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PGECM) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). Assim, a partir da constatação de um movimento de constituição da pesquisa acadêmica na área, demarcou um perfil de formação, com influência na vertente francesa da Didática das Ciências e Matemática.

Stella Maris Wolff da Silva e Maria Rosa Chitolina Schetinger, no artigo O processo de internacionalização da pós-graduação stricto sensu brasileira, afirmam que a simples definição do termo “internacionalização” não esclarece o conteúdo e os limites da internacionalização da pós-graduação, no Brasil. Esta pesquisa procura demonstrar a evolução de certos programas de cooperação acadêmica internacional, executados pela instituição Capes, envolvendo o Brasil, a Alemanha, os Estados Unidos e a França, assim como os critérios de seleção desses países.

As abordagens dos artigos, ora disponibilizados, sugerem novas questões e reflexões teóricas sobre as práticas curriculares, formação profissional e cursos de pós-graduação. Espero que esses conhecimentos e referenciais apresentados suscitem leituras, discussões e novas formulações de pesquisa.

Boa leitura

Maria Cristina Pansera de Araújo

Biografia do Autor

Maria Cristina Pansera de Araujo, UNIJUI

Dra em Genética e biologia Molecular; Pesquisadora em Ensino de Ciências e Biologia; Educação Ambiental e em Saude

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Publicado

2018-06-26

Como Citar

de Araujo, M. C. P. (2018). PRÁTICAS CURRICULARES E FORMAÇÃO PROFISSIONAL. Revista Contexto &Amp; Educação, 33(105), 1–5. Recuperado de https://revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoeducacao/article/view/7940