Lei da Igualdade Salarial: o Estado dá com uma mão o que tira com a outra

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21527/2179-1309.2025.122.15882

Palavras-chave:

Lei de Igualdade Salarial, Divisão sexual do trabalho, Interseccionalidade

Resumo

A Lei n. 14.611/2023 (Lei da Igualdade Salarial) soma-se ao arcabouço normativo destinado a garantir equidade e não discriminação por gênero no mundo do trabalho. A proposta do presente artigo é propor reflexões sobre o motivo de legislações como esta ainda serem necessárias, a partir de uma perspectiva crítica, feminista e decolonial. Por meio de revisão bibliográfica, objetivamos problematizar suas possibilidades de alcance frente a uma organização social estruturada na colonialidade de gênero e raça. Inicialmente, percorremos uma contextualização sócio-histórica da divisão sexual do trabalho. Após, por meio de análise legislativa, pensamos sobre a (in)suficiência da lei, baseadas no argumento de Segato (2012), de que o Estado dá com uma mão aquilo que retirou por outros meios. Por fim, pensamos em caminhos possíveis a partir do debate apresentado. 

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Publicado

2025-03-07

Como Citar

Segat, J. L., dos Santos, A. N., & Caetano, M. (2025). Lei da Igualdade Salarial: o Estado dá com uma mão o que tira com a outra. Revista Contexto & Educação, 40(122), e15882. https://doi.org/10.21527/2179-1309.2025.122.15882

Edição

Seção

Gênero e Sexualidade